O primeiro professor de música do Amazonas

27/03/2014 12:52

Texto escrito por Robério Braga

Criada a Província do Amazonas em 1850 e instalada com toda a pompa possível para o acanhado arraial da Barra, em 1.º de janeiro de 1852, até para fazer jus a autonomia política conquistada em relação ao Pará, o presidente João Baptista de Figueiredo Tenreiro Aranha cuidou de organizar os mais variados serviços públicos, entre eles a Secretaria da Província, a Fazenda e a Educação, sobre a qual expediu o primeiro regulamento. Sua administração foi muito curta, precisando deslocar-se no mesmo ano para o Rio de Janeiro, mas deixou com os seus substitutos imediatos o sentimento de que era necessário dar prosseguimento à implantação de uma organização peculiar a administração pública provincial, tal como se dava em outras regiões do Império.

Desta forma, pouco tempo depois já na administração do presidente Herculano Ferreira Penna, em razão da Lei n.º 20, de 26 de novembro de 1853 que criou a Escola de Música Vocal e Instrumental, foi nomeado para rege-la o professor “antigo e hábil”, Gaspar José de Mattos Ferreira de Lucena que chegou a Barra em 1854 no vapor “Rio Negro”, Vinha de Santarém, com uma ajuda de custo especial para a sua transferência em razão de ter uma prole muito grande, o que, de igual modo, segundo salientavam os relatórios oficiais, estava a exigir um argumento de salário para os mais de 400$000 fixados.

As aulas começaram às 8 horas do dia 24 de julho de 1854, e foram ministradas na sala da casa da Administração da Fazenda Provincial, possivelmente a de melhores condições entre o casario dominante na época, e onde havia estado a escola de primeiras letras do lugar. Era aula pública de música vocal e instrumental, sustentada e oferecida pelo Estado. De modo a atender a realidade da época e o pleito do presidente da Província, por Resolução n.º 33, de 27 setembro de 1854 da Assembléia Legislativa Provincial, foi fixado para o professor de música, além do ordenado de 400 mil-réis concedido pela Lei Provincial de n.º 20, de 26 de novembro de 1853, a gratificação de 16 mil-réis mensais, a serem pagos enquanto a escola tivesse mais de seis alunos.

Foi Gaspar de Lucena quem organizou a primeira banda de música da Barra, depois cidade de Manaus, e cuja apresentação inaugural foi realizada quando das comemorações do aniversário da instalação da Província levadas em efeito em 1.º de janeiro de 1855. Os festejos contaram ainda com a celebração da Santa Missa, procissão de Nossa Senhora dos Remédios, vésperas solenes, iluminação na cidade, benção da Bandeira do 1.º Batalhão da Guarda Nacional, baile e um discurso especial proferido pelo vigário-geral, cônego Joaquim Gonçalves de Azevedo.
Além de professor de música, pode-se ver que o professor Gaspar se arriscava no mundo da poesia, como se vê da que foi publicada no jornal "estrela do Amazonas". editado em Manaus em 6 de fevereiro de 1855, e oferecida ao presidente Ferreira Penna.

Em 1857, mesmo lecionando três aulas por semana no Seminário, e em casa dos alunos, renovou o contrato para incluir também e pela primeira vez, aulas de músicas para meninas, iniciando com nove alunas. O ensino de música passou a ser desenvolvido na Escola de Educandos e Artífices, onde se organizou a Banda de Música que atendia aos festejos oficiais da Província, aplicando-se os alunos nos seguintes instrumentos: requinta, clarineta, pistão, opheclide, flautin, trompa, trombone, bombo tambor, campainha, pratos, já em 1860.

Fonte: Biblioteca do Amazonas